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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Cuidado com o obsoleto






Escrito em uma Remington 11

Você sabe o que é obsoleto? Se não sabia, em segundos, já sabe.
Bastou dar um Google, certo?
Antes, só era possível encontrar uma definição no dicionário, o que dependia de esforço, além do conhecimento do alfabeto. Se ainda não ficou, logo esse livro vai entrar na obsolescência.
É certo que o século XXI real está distante do XXI da ficção, imaginada em meados do XX, com carros voadores, robôs e refeições instantâneas, obtidas a partir de uma pílula. Mas as mudanças foram profundas, ainda que despercebidas.
Com sorte, Bombril e uma posição especial da antena, a TV era capaz de captar uns 3 ou 4 canais. Hoje, com múltiplas imagens em HD, ninguém sabe ao certo que fim a antiga TV levou, foi embora sem deixar saudades.
Radinho de pilha? Costumava ser o portal para as notícias, para as histórias policiais, para o humor e para o espetáculo de futebol que começava com as cortinas sendo abertas por Fiori Giglioti. Sem as amarelinhas, o rádio ainda fala alto, nos carros.
Antes, os textos só eram formais batidos à máquina. A sinfonia do tec tec tec entrou em silêncio profundo, até mesmo nas repartições públicas. Pelo mesmo caminho devem seguir o orelhão, o jornal impresso e a troca de cartas, também as de amor, com papel perfumado.
A lista de desaparecidos é longa, inclui a fita cassete, os filmes fotográficos e até o que já foi sinônimo de modernidade, o videocassete de 7 cabeças.
Tudo isso em pouco mais de duas décadas.
Agora, olhe em sua volta. Veja as coisas que o cercam. O seu celular vai resistir até a próxima promoção? E o seu computador, não ficou lento? Ainda usa sua câmera digital? Sabia que logo vão chegar TVs mais nítidas, com 4 vezes mais resolução, e telas ainda mais finas?
Agora, reflita. Você realmente precisa de tudo isso? Não se sente consumido, ao invés de consumidor?
Aqui, no meu canto, cercado de livros e máquinas de escrever salvas da destruição, solto a imaginação e penso num mundo em que o consumismo também fique obsoleto.
Aliás, você conseguiu ler até aqui? Parabéns, você está em extinção. Ninguém mais consegue passar dos 140 caracteres.

Luciano Toriello - 04.06.2015
Escrito em uma Remington 11


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