Translate

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

As alemãs são perversas






Um sujeito da cidade grande chega em um vilarejo do interior, onde está acontecendo uma 'corrida' de galos e resolve arriscar uma aposta.

Se aproxima de um caipira que está agachado em um canto, assistindo à disputa, e dispara a pergunta:

- Amigo, qual desses galos é bom?

- Ah, mas qualquer um pode ver que bom mesmo é o galo branco! - responde de pronto o matuto, com a certeza de um matemático quando diz que um mais um é igual a dois.

Confiando no capiau, que continua com os olhos grudados nas aves, o forasteiro resolve apostar todo o seu dinheiro no galo branco.

Em pouco tempo, porém, o galo preto se impõe e faz miséria do pobre branquinho.

Então, diante do prejuízo, o perdedor resolve tirar satisfação:

- Meu amigo, segui o que você disse e perdi tudo! E agora? Como é que eu fico?

O jeca não se abala. Dispara uma cusparada com tranquilidade, antes de se defender:

- Mas eu não menti! O galo branco é bom, mas o galo preto é perverso!



Nesse blog, tenho dado bastante atenção para alguns modelos conhecidos no Brasil, produzidos pela Olivetti ou pela Remington, porque podem ser adquiridos com facilidade e ainda estão na memória afetiva de muita gente.

Mas é preciso reconhecer que até mesmo alguns clássicos, que mantenho preferência, como a Olivetti Lexikon 80 e a Olivetti Studio 44, são galos brancos diante das máquinas produzidas na Alemanha.

Da mesma forma que BMW, Audi, Volkswagen, Porsche, Mercedes e outras marcas alemãs que são referência para a indústria automobilística, o mercado de máquinas de escrever teve como referência de qualidade a produção de modelos da Triumph, Adler, Torpedo e Olympia, entre outras.

A diferença salta aos olhos e aos dedos, basta ver a estrutura das peças e sentir o toque diferenciado do teclado para perceber que a precisão mecânica faz parte do DNA germânico.

Sempre que for possível escolher entre uma máquina alemã e outra produzida em qualquer outro ponto do planeta, não tenha dúvidas, as alemãs são perversas.

Luciano Toriello - 25/02/2016
Escrito com uma Triumph Gabriele 25




P.S. O autor desse blog é contrário a qualquer tipo de disputa ou competição entre animais, até mesmo quando não há crueldade ou violência, mas acredita firmemente que boas histórias ou anedotas não podem ser apagadas em nome do que passou a ser considerado 'politicamente incorreto'. 

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Olivetti Lettera 32





Algumas coisas nos parecem tão comuns que mal conseguimos perceber o valor que elas têm, ou a genialidade de quem as construiu. A Olivetti Lettera 32 é um bom exemplo, um clássico, que muita gente guarda na memória, já que muitos jovens recebiam uma de presente, como uma espécie de rito de passagem da infância para a adolescência.

Comum, mas com características que a tornam especial.

Lançada em 1963, como sucessora da premiada Lettera 22, a portátil desenhada por Marcello Nizzoli manteve a preferência de quem buscava uma boa máquina de escrever que pudesse ir a todos os lugares.

O teclado com botões quadrados e cantos arredondados anunciava a modernidade, que chegaria tempos depois com os computadores pessoais, com um toque leve para imprimir com velocidade, sem cansar os dedos.


Na extremidade direita, o botão vermelho se destaca, como em outros modelos da marca italiana, com a função de movimentar o carro para as marcas tabuladas, que podem ser medidas pelas inscrições na barra cromada que segura o papel, ou na régua fixa do carro, com números que partem de 0 a 80, largura exata de uma folha de papel.

Em metal, o suporte de papel, quando erguido, assume a forma de "V", logo a frente dos margeadores, que têm movimento preciso, com acabamento em cromo.



A alavanca de retorno, em alumínio, é dobrável em duas partes, para que possa ser recolhida e a máquina melhor acomodada no estojo. O movimento do carro é leve e não exige maior esforço, por isso, apesar de parecer curta, a haste funciona bem.



Nas versões mais antigas, as laterais do carro têm acabamento em alumínio, com pintura da mesma cor, que pode arranhar com facilidade. Depois, essas peças foram substituídas por plástico preto.



No Brasil, as Lettera 32 foram distribuídas em três cores: verde menta, salmão e o verde claro, próximo do abacate. Cores que traduzem o estilo de uma época e imprimem personalidade a um produto que pode combinar com diferentes cenários, sem o tédio cromático que imperou nas décadas seguintes, com o domínio do bege, cinza e preto.



A portabilidade era feita com segurança, por meio de uma maleta em tom azul, com faixa e detalhes em preto, como a alça plástica e o zíper único, que envolve o estojo de um lado a outro.

Uma outra opção, menos comum, era uma bolsa em couro marrom, em dois tons, claro e escuro, com uma alça para levar a máquina nos ombros.

A Olivetti Pica é a fonte padrão para a maioria das Lettera 32, mas há notícias sobre versões com fonte em itálico e cursiva, mas são raras, por isso nem devem ser consideradas como possibilidade de escolha.

Toque regulável


A Lettera 32 pode ser usada sem exigir um grande esforço do datilógrafo. Os toques podem ser leves ou pesados, basta um ajuste feito com o regulador de batida, uma alavanca situada no lado esquerdo da máquina, embaixo da cobertura removível.

Durabilidade

Apesar da aparência frágil de uma máquina feita para uso pessoal, a Lettera 32 é muito resistente, com fôlego de sobra para escrever bem mais que uma carta, como o nome, em italiano, sugere.

O maior teste conhecido dessa capacidade de resistência ao uso intenso foi realizado pelo escritor Cormac McCarthy, que leiloou sua máquina em 2009, depois de mais de 40 anos de uso.

Segundo ele, foi em uma mesma Lettera 32 que nasceram todas as suas obras e correspondências pessoais, desde 1963, sem que precisasse de qualquer tipo de manutenção, além de uma limpeza com ar comprimido.

A venda rendeu mais de 250 mil dólares para uma instituição e, com 20 dólares, McCarthy comprou outra Lettera 32, em melhores condições.

Como escolher

Se você pretende comprar uma Lettera 32, siga essas dicas para fazer um bom negócio:

- Tenha paciência para escolher. Como é um modelo comum, não faltam ofertas, por isso, escolha a melhor;

- Prefira a pintura original, sem trincas e com poucos sinais de desgaste ou arranhões;


- Verifique se estão presentes as duas porcas sobre os carretéis de fita, uma de cada lado. Se foram perdidas, será difícil encontrar substitutas;

- Confira o movimento dos carretéis, que devem girar gradualmente, a cada toque do teclado. A inversão de movimento deve ser feita de forma automática, com o fim da fita;

- O estojo precisa estar em boas condições, com o zíper inteiro. Também é desejável que não tenha rabiscos de caneta ou marcas eternas, como o nome do antigo dono;
A trava impede o deslocamento acidental do carro

- Nunca se esqueça que preço alto nem sempre é sinônimo de qualidade. Avalie com cuidado os anúncios inscritos com termos exagerados, como: "para colecionadores", "raridade" ou "relíquia". Prefira fazer negócio com vendedores que estão com a máquina há muito tempo, como donos originais ou parentes próximos;

- Se o vendedor disser que a máquina é ótima para decorar o ambiente, esqueça, a não ser que esteja em busca de um peso de papel.

Luciano Toriello - 20/02/2016
Escrito com uma Olivetti Lettera 32

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Em breve: tudo sobre a Lettera 32


O país inteiro parece estar de férias, ou melhor, parece estar curtindo os últimos dias antes de o ano começar de verdade.

Infelizmente, para mim, essa é a época em que o trabalho aperta mais, por isso não tenho conseguido manter a frequência de textos, então, peço desculpas.

Mas logo vou trazer informações mais completas sobre a Olivetti Lettera 32, a portátil que mora no coração de muita gente, pelo estilo e leveza, mas principalmente por ter sido a primeira máquina de escrever, presenteada pelos pais, quando os jovens precisavam escrever seus primeiros trabalhos escolares.

Essa beleza da foto tem uma história parecida. Me chegou hoje, para completar minha pequena coleção, com uma de cada cor: salmão, verde menta e verde claro.

Possui ainda os manuais, pincel e até uma caixinha de Radex, que disfarçava os erros de datilografia.

Agora, basta uma limpeza.

Luciano Toriello - 04/02/2016