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sábado, 19 de dezembro de 2015

A melhor de todos os tempos


Em 1988, tive a oportunidade de trabalhar na Folha da Manhã, empresa que publica o jornal Folha de S. Paulo e, na época, também era responsável pela Folha da Tarde e pelo saudoso Notícias Populares.

A redação da Folha era a mais moderna, com terminais eletrônicos que acendiam as telas de fósforo verde, em que os jornalistas produziam as matérias e encaminhavam, após a edição, direto para o setor de fotocomposição, onde eu trabalhava. Lá, os artistas do paste-up montavam a página como seria impressa, colando textos e fotos, munidos de régua, estilete e canetas de nanquim.

Mas o lugar que mais me atraía era a redação do extinto A Gazeta Esportiva, que tinha o pessoal contratado pela Fundação Cásper Líbero, mas utilizava a mesma estrutura gráfica do Grupo Folha, na Alameda Barão de Limeira.

Os jornalistas da GE eram craques do texto, capazes de reproduzir a emoção de uma partida de futebol com suas máquinas de escrever, ainda que estivessem assistindo ao jogo por uma pequena TV de tubo, com uma imagem ruim.

Normalmente, o jornal de esportes fechava cedo, por volta das 22h30, mas eventualmente era preciso esperar o resultado de alguma partida importante para que a cidade pudesse ler no dia seguinte.

Tudo ficava pronto, esperando apenas o último texto, com espaço reservado. Daí, eu cumpria a ordem de fazer sombra ao jornalista responsável pela matéria.

 Após o apito final, ele concluía as anotações, virava o tampo da mesa para fazer surgir a sua Lexikon 80, que ficava presa pelos pés, e metralhava o teclado, em uma velocidade impressionante para os meus olhos.

Depois do último ponto, arrancava o papel da máquina e me entregava, sem a necessidade de revisar o resultado.

- Pode levar.

Era a senha para eu começar a minha corrida alucinante, para que o texto fosse digitado, revelado e entregue para ser colado na página e seguir pelo elevador para a produção do fotolito. Em poucos minutos, estava na rotativa.

Favorita dos bons jornalistas, a Olivetti fabricada nos anos 1950 dava seus últimos suspiros, sem ter sido substituída pelos modelos mais novos, porque era a melhor.

Não demorou até que os técnicos de informática desembalassem os equipamentos de edição eletrônica, que apareceram de um dia para o outro. Em seguida, todo o pessoal da fotocomposição fez fila para sacar o FGTS.

Prefiro não imaginar o final trágico daquelas Lexikon 80, mas estou certo que os antigos profissionais da imprensa guardam uma saudade da melhor máquina de escrever de todos os tempos.




Luciano Toriello - 19/12/2015
Escrito com uma Olivetti Lexikon 80

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Olivetti Studio 44




 Olivetti Studio 44

Criada em 1952, pelo arquiteto e designer Marcello Nizzoli, a Studio 44 é uma preciosidade mecânica que reúne, além de formas perfeitas, uma qualidade de construção que jamais se repetiu em outros modelos da Olivetti, com peças em metais nobres e cromados que dificilmente descascam, perdem o brilho ou oxidam, mesmo com o tempo.

É uma irmã menor da Lexikon 80, por isso compartilha das características que dão, a ambas, uma escrita confortável e precisa.

Tennessee Williams, em férias na Itália,
descobriu a Studio 44 
Não teve variações de cor, além do clássico verde menta, e do marrom claro (ocre, no meu antigo estojo de lápis de cor), que é mais difícil de ser encontrado entre as produzidas no Brasil.

Na parte frontal, destaca-se uma sequência de frisos verticais, emoldurados por um arco que envolve o teclado, diferenciando-a do estilo arredondado que foi comum às máquinas dos anos 1950.

Vinha acompanhada de um luxuoso estojo de madeira, coberto com couro em bordô e revestido internamente por um veludo da mesma cor.

Frisos emoldurados por arco marcam o visual
da Studio 44, diferente do padrão da época
Tem uma régua de aço inox que fica na base do carro, com indicação das colunas, que aparecem em uma janela abaixo do vibrador (peça que movimenta verticalmente a fita). Essa indicação facilita a vida do datilógrafo que se preocupa em escrever com a margem direita justificada.

Se fosse fabricada hoje, com os mesmos padrões de qualidade, poderia ser comparada a uma Ferrari, enquanto a Studio 45, sua sucessora, seria um Fiat básico.

Apesar disso, pode ser encontrada com certa facilidade, em boas condições, por um preço razoável.


Régua de colunas, em inox, aparece em janela abaixo
vibrador, para indicar a posição ao datilógrafo
A minha Studio 44

Gosto tanto desse modelo que tenho duas iguais. Teria outras.
A primeira, chegou com aparência de abandono, mas se revelou perfeita com uma limpeza básica. O problema estava no estojo, em condições ruins. Por isso, procurei outra que tivesse um estojo melhor, mesmo que a máquina estivesse rumando para o ferro velho.

Não demorou a aparecer a candidata perfeita, ainda com a capa original.

Essa máquina tinha a pintura feia, com manchas, e a mecânica estava tomada por sujeira, por isso, mal escrevia.
Transformação da pintura,
com limpeza e polimento


Tive a ideia de desmontar para uma limpeza e cheguei a encontrar, entre os mecanismos, um resto de lápis borracha.

Mas, conforme avançava com o serviço, percebi que estava nova, sem nunca ter sido consertada em toda a sua vida útil.

Até mesmo a pintura voltou às condições originais com um simples polimento, sem qualquer risco ou descascado, nem mesmo nos ombros do teclado.

Ficou ainda melhor que a minha primeira, por
isso mereceu continuar com o seu estojo e passou a ocupar um lugar de honra na minha coleção.

Luciano Toriello - 31.10.2015
Escrito com uma Olivetti Studio 44

Estojo em madeira forrado em bordô. Pesado, mas suficiente para proteger e preservar a máquina para a eternidade





Olivetti Studio 42



Olivetti Studio 42

Em 1935, três anos após o lançamento da MP1, primeira portátil da marca, a Olivetti fez surgir seu primeiromodelo de tamanho intermediário, a Studio 42, também conhecida como M2, projetada por Ottavio Luzzati.


Uma das máquinas mais bonitas que foram produzidas pela indústria de Ivrea, disponível em diversas cores, além do preto clássico, como o vermelho, verde, cinza, marrom, azul claro e bege.

O teclado tem o estilo antigo, com os vidros emoldurados por anéis cromados. O brilho aparece também no trilho dos tipos, que saltam aos olhos a cada batida de tecla. A tampa superior emoldura o mecanismo, cobrindo apenas as bobinas de fita. A marca 'Olivetti' se destaca no carro, em letras grandes.

Diferente das demais Studio, a mudança de maiúsculas e minúsculas não acontece com o movimento vertical do berço de tipos, mas com a elevação do carro, da mesma forma que as portáteis que seguem o padrão da Hermes Baby.

O braço da alavanca de retorno é curto. Primeiro acontece o retorno e, depois, com a pressão para a direita, o cilindro rola para a linha seguinte.

A reversão do transporte da fita não é automático. Quando a fita termina, basta acionar um botão, na lateral esquerda, para rebobinar no sentido contrário.

O estojo rígido de madeira forrada com couro ajuda a proteger a máquina dos efeitos do tempo. Fechado, com a alça em couro, lembra uma maleta antiga de viagem. Aberto, a tampa se desprende da base, que ajuda a deixar a máquina firme sobre a mesa.

A minha Studio 42

A Studio 42 foi importada pela Teconogeral S.A., de São Paulo, quando a fabricante italiana ainda não havia se estabelecido no Brasil, e enfrentava concorrentes americanos com maior popularidade, como a Remington e a Royal.

Considerando ainda que são máquinas antigas, com quase 80 anos, é difícil encontrar uma em ótimas condições de funcionamento, por isso, era um desejo antigo, que só pude concretizar com a ajuda de um amigo colecionador, que me cedeu um dos seus exemplares, por um preço camarada.

Segundo ele, a máquina chegou das mãos do dono original, apenas com algumas marcas de uso, sem nunca ter sido restaurada. Os cromados estão, em sua maioria, com o brilho intacto, e o funcionamento está perfeito, escrevendo bem sem qualquer esforço.

Com ela, pude não só ter o prazer de possuir um exemplar de cada Studio fabricada pela Olivetti, mas também me fez admirar, ainda mais, a saga iniciada pelo engenheiro Camilo que, em 1908, resolveu criar o que, para a maioria, parecia impossível.

Luciano Toriello - 01.11.2015
Escrito com uma Olivetti Studio 42 


Olivetti Studio 46


 A Studio 46 marcou o fim da linha Studio, com o modelo sendo fabricado de 1976 até meados da década de 1990.

Apesar de a mecânica ser muito parecida com a sua antecessora, diferencia-se fundamentalmente pelo tamanho maior, capaz de escrever em uma folha A4 colocada na posição horizontal, e com um teclado confortável, com teclas largas
Largura do carro aceita uma folha A4 na posição horizontal

Tem uma carenagem em alumínio fundido, do mesmo tipo que cobre sua irmã maior, a profissional Linea 98, que também empresta o botão largo, colocado no lado direito da barra de espaço, que permite avançar gradualmente com o carro, de forma mais rápida, sendo útil para o preenchimento de informações e planilhas.

Teclado é confortável, mas tem uma tendência a amarelar

Foi oferecida em dois padrões de cores, azul e branco com base marrom, ambos com teclado branco, que tende a ficar amarelado com o tempo, talvez por não possuir uma bolsa ou capa protetora resistente.

Em outros países, era possível comprar o mesmo modelo com a carenagem em plástico, com preço menor.

Ainda que apareça em alguns programas de TV e comerciais, procure por "soluções digitais" no canal do Banco do Brasil no YouTube, não é considerada uma máquina rara e nem está entre os modelos escolhidos pelos museus de arte moderna para representar seu projetista, mas é uma ótima opção para quem pretende ter uma ótima máquina de escrever para o dia a dia.
Alavanca de retorno em plástico indica a preocupação
com a redução de custos, com menor qualidade
A minha Studio 46

Branca com base marrom, minha Studio 46 me chegou totalmente coberta de poeira, com o funcionamento comprometido, já que as teclas ficavam impedidas de executar o movimento dos tipos. A sujeira também impedia o carro de movimentar-se corretamente.

Mais de 100 colunas em tamanho normal de fonte,
indica que a máquina é capaz de escrever tabelas
em uma folha A4 colocada na posição horizontal
Isso porque pertencia a um empresário que a mantinha como objeto de enfeite da sua sala de estar, em uma casa de alto padrão em um condomínio luxuoso. Ajudava a formar, junto com algumas câmeras fotográficas antigas e uma caixa registradora em estilo Art Déco, uma coleção de gosto questionável, porque não havia qualquer preocupação histórica e, muito menos, coerência, além da obsolescência tecnológica.

Segundo ele, a máquina havia pertencido a uma tia distante, que trabalhava como tradutora. Acabou abandonada, não a tia, mas a máquina, depois que um computador assumiu o seu lugar.

Para mim, foi a oportunidade para aprender a desmontar e limpar uma máquina de escrever, depois de uma longa pesquisa em sites estrangeiros, a fim de encontrar dicas para executar o serviço e não estragá-la.

Com o uso, passei a gostar ainda mais da linha Studio, Tanto que ainda tenho vontade de ter uma azul, para formar um par, mas devidamente cobertas, longe da poeira.

Luciano Toriello - 31.10.2015
Escrito com uma Olivetti Studio 46

Veja a Studio 46 na peça publicitária do Banco do Brasil










segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Olivetti Studio 45


Duke Ellington ajuda a promover a Studio 45
A Studio 45 traduz a essência do design de sua época, com linhas harmoniosas, carenagem em plástico ABS com uma cor marcante, verde petróleo, que emoldura um teclado que contrasta o preto brilhante com letras brancas.

Uma combinação cuidadosa que está diretamente relacionada à filosofia da empresa, que buscava conquistar o consumidor não apenas pela qualidade mecânica, como era comum a todos os demais fabricantes, mas principalmente pelo visual dos seus produtos, agregando o estilo como um importante valor.

Para promover o modelo, a Olivetti convocou estrelas para conferir sofisticação à máquina, como a modelo Twiggy e o músico de jazz Duke Ellington, em peças publicitárias que recheavam as principais revistas.

O projeto da Studio 45 foi criado em 1967, assinado por Ettore Sottsass, que também criou a Olivetti Valentine, portátil que se tornou outro ícone, preservada no MoMA e perseguida por colecionadores.

O historiador Eric Hobsbawm retratado com sua Olivetti Studio 45
A minha Studio 45

A modelo Twiggy destaca a cor da máquina
Foi a minha primeira Olivetti, encontrada em uma oferta de classificados por um preço baixo, por isso, apesar de já possuir uma Remington 25, resolvi arriscar a nova compra e acabei impressionado por suas qualidades, despertando o meu interesse para a história da marca e pelos demais modelos.

Como estava muito usada e com visual ruim, procurei outra Studio 45 em perfeitas condições, para ter o prazer de possuir uma que estivesse mais próxima de nova. Não foi uma tarefa fácil.

O antigo dono, um empresário do ramo gráfico, recebeu a Studio como presente dos pais, em 1971, mantendo-a com pouco uso, talvez para preservar o mimo, comprado com sacrifício. Com o tempo, acabou esquecida por ele, mas continuou guardada pela mãe.

Preservada com manual e acessórios


Após a perda dos pais, na desocupação do apartamento, encontrou a Olivetti preservada, com manual e acessórios originais. Acabou anunciando, sem o apego pela história pessoal.

Régua de colunas indica o tamanho menor da fonte
Outro diferencial dessa máquina está no tamanho da fonte, menor que o padrão. Essa diferença pode ser notada pela régua de colunas, enquanto uma máquina com fonte comum atinge pouco mais de 80 colunas na largura do cilindro, suficiente para uma folha A4 na posição vertical, minha Studio 45 tem pouco mais de 100 colunas para a mesma medida de cilindro. Isso faz dela ainda mais rara, já que poucas foram as produzidas com medida especial.

A Olivetti lançou outras opções de cores, enquanto a Studio 45 esteve em produção, como o bege com o teclado branco. Também já vi bege com teclado preto. As primeiras vieram com estojo rígido, depois substituído por uma bolsa em couro preto. As últimas, foram protegidas em uma bolsa de plástico, estampada com um padrão de logotipos.

Luciano Toriello - 31.10.2015
Escrito com uma Olivetti Studio 45






A linha Studio da Olivetti



A Olivetti produziu, até a década de 1930, apenas máquinas de mesa, enquanto a concorrência já mantinha as linhas de montagem ocupadas com máquinas menores, voltadas para o uso pessoal.

Fabricada em Ivrea, Itália, importada por Tecnogeral S.A.
Até que, em 1932, foi lançada a Olivetti MP1 (Modello Portatile 1), mais conhecida como Ico e, em 1935, apresentou a Olivetti Studio 42, com tamanho intermediário, ou seja, menor que o modelo de mesa e maior que o portátil, para atender aos escritores que precisavam de leveza e praticidade, mas não queriam abrir mão do conforto de escrever em uma máquina grande.

Em toda a existência da empresa, a Olivetti criou apenas 4 modelos de Olivetti Studio, primeiro a 42, seguida da 44, 45 e, finalmente, a 46, permanecendo um mistério o fato de nunca ter existido um modelo Studio 43.

Também é curioso o fato de a Studio 42 ser a menor delas, derivada da portátil MP1, enquanto as demais são maiores, criadas a partir dos modelos de mesa, como a Studio 44, que segue os padrões mecânicos da Lexikon 80, a Studio 45, próxima da Linea 88, e a Studio 46, parecida com a Linea 98, que foi a última máquina manual da marca italiana, voltada para o uso profissional.


A MP1 permaneceu única na linha de portáteis, sucedida pelas máquinas da linha Lettera, primeiro a cultuada Lettera 22, na década de 1950, que deu lugar à Lettera 32, a partir de 1963. Outras versões de portáteis Lettera foram lançadas posteriormente, sem o mesmo reconhecimento dos primeiros modelos.

Nos próximos dias, vou apresentar a minha coleção de Olivetti Studio, seguindo a ordem em que elas foram adquiridas. Após uma pequena descrição das características de cada modelo, vou narrar como as máquinas chegaram em minhas mãos.

Luciano Toriello - 31.10.2015
Escrito com uma Olivetti Lexikon 80