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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Olivetti Lettera 32





Algumas coisas nos parecem tão comuns que mal conseguimos perceber o valor que elas têm, ou a genialidade de quem as construiu. A Olivetti Lettera 32 é um bom exemplo, um clássico, que muita gente guarda na memória, já que muitos jovens recebiam uma de presente, como uma espécie de rito de passagem da infância para a adolescência.

Comum, mas com características que a tornam especial.

Lançada em 1963, como sucessora da premiada Lettera 22, a portátil desenhada por Marcello Nizzoli manteve a preferência de quem buscava uma boa máquina de escrever que pudesse ir a todos os lugares.

O teclado com botões quadrados e cantos arredondados anunciava a modernidade, que chegaria tempos depois com os computadores pessoais, com um toque leve para imprimir com velocidade, sem cansar os dedos.


Na extremidade direita, o botão vermelho se destaca, como em outros modelos da marca italiana, com a função de movimentar o carro para as marcas tabuladas, que podem ser medidas pelas inscrições na barra cromada que segura o papel, ou na régua fixa do carro, com números que partem de 0 a 80, largura exata de uma folha de papel.

Em metal, o suporte de papel, quando erguido, assume a forma de "V", logo a frente dos margeadores, que têm movimento preciso, com acabamento em cromo.



A alavanca de retorno, em alumínio, é dobrável em duas partes, para que possa ser recolhida e a máquina melhor acomodada no estojo. O movimento do carro é leve e não exige maior esforço, por isso, apesar de parecer curta, a haste funciona bem.



Nas versões mais antigas, as laterais do carro têm acabamento em alumínio, com pintura da mesma cor, que pode arranhar com facilidade. Depois, essas peças foram substituídas por plástico preto.



No Brasil, as Lettera 32 foram distribuídas em três cores: verde menta, salmão e o verde claro, próximo do abacate. Cores que traduzem o estilo de uma época e imprimem personalidade a um produto que pode combinar com diferentes cenários, sem o tédio cromático que imperou nas décadas seguintes, com o domínio do bege, cinza e preto.



A portabilidade era feita com segurança, por meio de uma maleta em tom azul, com faixa e detalhes em preto, como a alça plástica e o zíper único, que envolve o estojo de um lado a outro.

Uma outra opção, menos comum, era uma bolsa em couro marrom, em dois tons, claro e escuro, com uma alça para levar a máquina nos ombros.

A Olivetti Pica é a fonte padrão para a maioria das Lettera 32, mas há notícias sobre versões com fonte em itálico e cursiva, mas são raras, por isso nem devem ser consideradas como possibilidade de escolha.

Toque regulável


A Lettera 32 pode ser usada sem exigir um grande esforço do datilógrafo. Os toques podem ser leves ou pesados, basta um ajuste feito com o regulador de batida, uma alavanca situada no lado esquerdo da máquina, embaixo da cobertura removível.

Durabilidade

Apesar da aparência frágil de uma máquina feita para uso pessoal, a Lettera 32 é muito resistente, com fôlego de sobra para escrever bem mais que uma carta, como o nome, em italiano, sugere.

O maior teste conhecido dessa capacidade de resistência ao uso intenso foi realizado pelo escritor Cormac McCarthy, que leiloou sua máquina em 2009, depois de mais de 40 anos de uso.

Segundo ele, foi em uma mesma Lettera 32 que nasceram todas as suas obras e correspondências pessoais, desde 1963, sem que precisasse de qualquer tipo de manutenção, além de uma limpeza com ar comprimido.

A venda rendeu mais de 250 mil dólares para uma instituição e, com 20 dólares, McCarthy comprou outra Lettera 32, em melhores condições.

Como escolher

Se você pretende comprar uma Lettera 32, siga essas dicas para fazer um bom negócio:

- Tenha paciência para escolher. Como é um modelo comum, não faltam ofertas, por isso, escolha a melhor;

- Prefira a pintura original, sem trincas e com poucos sinais de desgaste ou arranhões;


- Verifique se estão presentes as duas porcas sobre os carretéis de fita, uma de cada lado. Se foram perdidas, será difícil encontrar substitutas;

- Confira o movimento dos carretéis, que devem girar gradualmente, a cada toque do teclado. A inversão de movimento deve ser feita de forma automática, com o fim da fita;

- O estojo precisa estar em boas condições, com o zíper inteiro. Também é desejável que não tenha rabiscos de caneta ou marcas eternas, como o nome do antigo dono;
A trava impede o deslocamento acidental do carro

- Nunca se esqueça que preço alto nem sempre é sinônimo de qualidade. Avalie com cuidado os anúncios inscritos com termos exagerados, como: "para colecionadores", "raridade" ou "relíquia". Prefira fazer negócio com vendedores que estão com a máquina há muito tempo, como donos originais ou parentes próximos;

- Se o vendedor disser que a máquina é ótima para decorar o ambiente, esqueça, a não ser que esteja em busca de um peso de papel.

Luciano Toriello - 20/02/2016
Escrito com uma Olivetti Lettera 32

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Em breve: tudo sobre a Lettera 32


O país inteiro parece estar de férias, ou melhor, parece estar curtindo os últimos dias antes de o ano começar de verdade.

Infelizmente, para mim, essa é a época em que o trabalho aperta mais, por isso não tenho conseguido manter a frequência de textos, então, peço desculpas.

Mas logo vou trazer informações mais completas sobre a Olivetti Lettera 32, a portátil que mora no coração de muita gente, pelo estilo e leveza, mas principalmente por ter sido a primeira máquina de escrever, presenteada pelos pais, quando os jovens precisavam escrever seus primeiros trabalhos escolares.

Essa beleza da foto tem uma história parecida. Me chegou hoje, para completar minha pequena coleção, com uma de cada cor: salmão, verde menta e verde claro.

Possui ainda os manuais, pincel e até uma caixinha de Radex, que disfarçava os erros de datilografia.

Agora, basta uma limpeza.

Luciano Toriello - 04/02/2016



segunda-feira, 29 de junho de 2015

Engenhocas e palavras



Luciano Toriello
Escrito em uma Olivetti Lettera 32 (recuperada das cinzas)


Quando eu era garoto, minha brincadeira favorita era desmontar os meus carrinhos para trocar as rodas ou promover algumas transformações mais radicais, como abrir janelas, retirar o teto ou criar plataformas de transporte para os soldadinhos do Forte Apache.

Dizem que todas as crianças são artistas, mas a minha arte foi mal compreendida. A criatividade era punida como uma força destruidora.


Logo descobri que desmontar significava não ganhar outro, por isso passei a ficar obcecado pelo conserto. Com um tubo de cola ou uma fita adesiva, tentava remendar tudo.

Não entendo como essa disposição para entender como as coisas funcionavam não me levou para a engenharia ou a mecânica. Acabei me encantando pelas letras e as infinitas possibilidades de criação de significados a partir de um conjunto limitado de caracteres.


Hoje, consigo perceber que a minha paixão por máquinas de escrever se deve por ser uma síntese de tudo o que sempre amei, engenhocas e palavras.

São fascinantes por toda a complexidade mecânica e maravilhosas por todos os universos da imaginação que podem trazer para a realidade concreta de um tipo marcado em folhas de papel.

Outro dia, encontrei uma máquina a ponto de virar sucata. Só resolvi trazê-la para casa por causa do estojo e da possibilidade de retirar algumas peças. Estava quebrada, emperrada, enferrujada e tomada por uma grossa camada de poeira.


Tive pena e resolvi que devia trazê-la de volta à vida. Perdi muitas horas dos finais de semana no projeto, foi tão difícil que não foram poucas as vezes que pensei em desistir.

Hoje, o desafio chegou ao fim. A Olivetti Lettera 32 ficou tão boa que mereceu ganhar até um colo, como a bruxa Lispector costumava fazer, ao gestar as suas obras.


Escrito em uma Olivetti Lettera 32 - Das máquinas que eu tenho, não é a mais bonita, a mais conservada ou a melhor. Muito pelo contrário. Mas renasceu das cinzas. Se não recuperou o brilho, resgatou a própria dignidade e isso, para mim, vale muito.