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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Elas não têm valor


Sou do tempo que máquinas de escrever custavam tanto, que eram para poucos.

Mais tarde, começaram a entrar nas casas menos nobres, embaladas como um precioso presente para os filhos e, escondido na gaveta, um gordo carnê a ser quitado, como um investimento para o futuro.

O computador, que já havia ocupado o espaço das máquinas nos escritórios, não demorou a chegar até as casas, principalmente depois da Internet, assumindo mais do que a mesa de estudos, para empurrar as máquinas para um canto qualquer, até virarem estorvos, a serem despejados para a reciclagem.

Pesadas e inúteis, muitas foram para o ferro velho, trocadas por centavos, que mal pagavam seu peso em metal.

Hoje, com a onda retrô, a máquina de escrever virou um dos objetos de desejo dos hipsters, que acham o máximo sentar a mesa de um bar e batucar bobagens, com dois ou três dedos, sem qualquer domínio da datilografia.

E as máquinas passaram a ter algum valor. Muitas das que tenho, comprei por um preço que mal dava para encomendar uma pizza e, hoje, nem economizando na pizzaria, na lanchonete e na churrascaria, por alguns meses.

A moda é fugaz. Pode ser que alguns desses jovens se apaixonem por suas máquinas, a ponto de carrega-las pelos bares por toda uma vida, mas são grandes as chances de a maioria deles se desinteressarem, empurrando essa tendência de preço para o chão.

Daí, alguém me diz:

- Aproveite a maré alta! Venda suas máquinas e faça algum dinheiro, enquanto podem valer alguma coisa...

Mal penso nisso. Gosto de escolher cada uma delas conforme o meu desejo, como um sheik, com seu harém.

Escrito com uma Remington 11

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sou hipster?
























































































Costumo me divertir com os rótulos criados para identificar as pessoas. Até hoje questiono a convenção da tal 'Geração X' e 'Geração Y'.

Acabo de ler uma pequena matéria do grupo Folha dizendo que os "Hipsters estão realmente usando máquinas de escrever em lugares públicos".

Para mim, nenhuma novidade em relação às máquinas. Ettore Sottsass criou essa tendência há pelo menos 50 anos, quando desenhou a Olivetti Valentine.

Só não conhecia o termo "hipster". Dei um Google e confirmei o que já desconfiava, uma tarja para marcar pessoas que preferem um brechó a uma moda comercial.

Então, me perguntei se posso ser um hipster, assim, com a surpresa de quem descobre ter algum mal sem cura.

Resolvi enumerar algumas preferências, que insisto em manter, fora de moda.

Gosto de ler mais de 140 caracteres sobre um mesmo assunto, principalmente quando foram escritor por grandes autores.

Gosto muito de máquinas de escrever, menos pelas máquinas e mais por escrever, outro hábito cafona.

Tenho um carro normal para o dia a dia e outro fantástico para ocasiões especiais, um fusca 79, que chamo de João Bosco.

Meu cachorro é um pastor alemão, bem diferente dos frufrus de apartamentos.

Uso roupas estranhas como camiseta, jeans e tênis velhos. Necessariamente confortáveis, pouco importa a marca.

Uso também um panamá sob o sol e uma boina italiana para o frio.

Gosto de ser amigo dos meus amigos e de sempre fazer novos, porque conhecer e conviver com ótimas pessoas nunca é demais.

Meu comportamento, na intimidade, também é esquisito.

Todos os dias, pergunto para o meu filho sobre a sua vida. Dou as broncas necessárias e peço desculpas quando erro, porque sou humano. Faço questão que saiba o quanto eu o amo.

Também declaro, todos os dias, o meu amor a minha esposa. Repito isso há 27 anos e não me canso de ouvir a mesma coisa.

Até hoje, pensava que tudo era normal. Mas como disse meu amigo Jafé, devo ser mesmo o 'rei dos hipsters'.

Luciano Toriello - 19.06.2015
Escrito em uma Halda portátil