Em 1988, tive a oportunidade de trabalhar na Folha da Manhã, empresa que publica o jornal Folha de S. Paulo e, na época, também era responsável pela Folha da Tarde e pelo saudoso Notícias Populares.
A redação da Folha era a mais moderna, com terminais eletrônicos que acendiam as telas de fósforo verde, em que os jornalistas produziam as matérias e encaminhavam, após a edição, direto para o setor de fotocomposição, onde eu trabalhava. Lá, os artistas do paste-up montavam a página como seria impressa, colando textos e fotos, munidos de régua, estilete e canetas de nanquim.
Mas o lugar que mais me atraía era a redação do extinto A Gazeta Esportiva, que tinha o pessoal contratado pela Fundação Cásper Líbero, mas utilizava a mesma estrutura gráfica do Grupo Folha, na Alameda Barão de Limeira.
Os jornalistas da GE eram craques do texto, capazes de reproduzir a emoção de uma partida de futebol com suas máquinas de escrever, ainda que estivessem assistindo ao jogo por uma pequena TV de tubo, com uma imagem ruim.
Normalmente, o jornal de esportes fechava cedo, por volta das 22h30, mas eventualmente era preciso esperar o resultado de alguma partida importante para que a cidade pudesse ler no dia seguinte.
Tudo ficava pronto, esperando apenas o último texto, com espaço reservado. Daí, eu cumpria a ordem de fazer sombra ao jornalista responsável pela matéria.
Depois do último ponto, arrancava o papel da máquina e me entregava, sem a necessidade de revisar o resultado.
- Pode levar.
Era a senha para eu começar a minha corrida alucinante, para que o texto fosse digitado, revelado e entregue para ser colado na página e seguir pelo elevador para a produção do fotolito. Em poucos minutos, estava na rotativa.
Favorita dos bons jornalistas, a Olivetti fabricada nos anos 1950 dava seus últimos suspiros, sem ter sido substituída pelos modelos mais novos, porque era a melhor.
Não demorou até que os técnicos de informática desembalassem os equipamentos de edição eletrônica, que apareceram de um dia para o outro. Em seguida, todo o pessoal da fotocomposição fez fila para sacar o FGTS.
Prefiro não imaginar o final trágico daquelas Lexikon 80, mas estou certo que os antigos profissionais da imprensa guardam uma saudade da melhor máquina de escrever de todos os tempos.
Luciano Toriello - 19/12/2015
Escrito com uma Olivetti Lexikon 80
hey, cara
ResponderExcluireu posso fazer um blog com o mesmo estilo, tipo, textos escritos com uma maquina lexikon 80? ah, antes que eu me esquça, a sua lexikon é daquelas com o rodo grande ou o do rodo pequeno?