Um amigo passou a me apelidar de Indiana, numa referência direta ao personagem dos cinemas que vive suas aventuras em busca de objetos históricos. Um exagero, sem tamanho e sem merecimento, mas é verdade que em busca de uma máquina de escrever sou capaz de ir bem longe.
Até o encontro, alguns cuidados são necessários, como ter certeza que as fotos são reais, o vendedor exista nas redes sociais e o endereço seja válido.
Da mesma forma, entendo que o anunciante tenha necessidade de alguma segurança para fornecer suas informações, afinal, ninguém quer ficar exposto a um assalto ou qualquer outra barbaridade.
Mas nessas andanças sempre tive a sorte de encontrar ótimas pessoas. Tanto que chego a acreditar que se o mundo é dividido entre bons e maus, certamente os bons têm ou tiveram uma máquina de escrever. Os maus, nem sempre.
Melhor mesmo é quando uma máquina vem acompanhada da história de quem a possuiu. Daí a conversa estica, porque tenho um interesse especial por tudo que cerca o objeto, principalmente por quem o utilizou.
Por meio desses relatos, já conheci alguns advogados, médicos, contadores e até escritores com livros publicados. Todos eles tiveram suas máquinas como bens valiosos e as deixaram como parte da herança.
Na última vez, ouvi um filho de 65 anos dizer que eu estava levando, junto com a máquina, um pouco da alma do seu pai, porque tinha a lembrança viva dele escrevendo com ela.
Insisti que talvez fosse melhor manter a máquina guardada para algum neto ou neta, mas a resposta foi enfática:
- Não, de jeito nenhum! Ninguém mais se interessa por isso. Nem tenho espaço na minha casa. Pode levar que, com você, a máquina vai ser melhor aproveitada.
Quando consigo uma máquina assim, fico feliz por saber que foi bem cuidada e conservada por tantos anos, mas sei que tenho uma responsabilidade maior, porque trago junto com ela uma parte da memória que dificilmente será resgatada pela família.
Estou longe de ser o aventureiro de chapéu e chicote, mas tenho a consciência que máquinas de escrever podem ser tesouros, com valor bem maior que o preço pago por elas.
Luciano Toriello - 22.12.2015
Escrito com uma Remington 11 (Querida Ogra)
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